A Constituição cidadã como proclamou o “Velho Ulisses”, veio realmente para preencher lacunas e derrubar mitos e como diria o “Velho Guerreiro” para confundir conceitos.
Depois de longo período no regime militar, a noção de liberdade e responsabilidade se tornou algo um tanto “volátil”, em princípio (e na cabeça de alguns) dentro daquele regime tudo era justificável/relativo: a morte, a tortura, o desmando, a omissão e talvez o principal ícone da condição humana: a liberdade.
Com o advento da Constituição se proclamou por exemplo que a polícia não poderia mais bater (ou seja antes podia !!! - isso confundiu a referência de autoridade do Estado), fumar maconha iria deixar de ser crime e por aí vai...e foi.
De 1988 para cá a sociedade brasileira evoluiu “para o bem e para o mal”, a criminalidade não dá tréguas e a cada ano apresenta números preocupantes.
A polícia é cobrada diariamente para resolver essas questões, porém, há um equívoco primário nessa discussão, caberia sim à polícia “todas” as soluções para os problemas da criminalidade no Brasil, se fôssemos um Estado Policial, ocorre que constituímos um Estado Democrático de Direito.
O sujeito desajustado (para não dizer mimado) que nunca ouviu um não do pai ou da mãe, ouve um não da namorada e então resolve matá-la, o outro que tem uma vida vazia, sem metas ou desafios e resolver atear fogo no andarilho, situações como essas, as quais infelizmente grassam cada vez mais amiúde, não estão dentro do espectro de atuação inibitiva da polícia, mas na razão estrutural das famílias, instituições e da própria sociedade, como cobrar da polícia que “diminua” esse tipo de ocorrência ? isso beira as raias da hipocrisia e de um conveniente e deliberado comodismo.
É preciso compreender ou relembrar, a razão principal pela qual o homem passou a viver em sociedade: foi para se preservar como espécie, a interação foi um fator preponderante no sucesso da raça humana sobre todas as demais.
Se a comunidade através das simples ferramentas que dispõe, como as Associações de Bairro, as Igrejas, as entidades filantrópicas etc. trabalhar alinhada com o Estado, principalmente com os órgãos de segurança, existe uma possibilidade concreta e palpável de melhora imediata na condição de vida nas cidades, sejam elas pequenas, médias ou grandes.
A sociedade é uma manada de gnus em uma grande savana, os bandidos são os predadores rápidos e fortes, porém, se a manada agir com um mínimo de interação, não tem predador que consiga infortuná-la, mas os gnus simplesmente se ignoram, não assumem sua reles cota de responsabilidade e inevitavelmente são devorados.
A principal arma dos predadores das savanas, assim como dos bandidos urbanos, não são as pistolas ou os fuzis famosos até por derrubar helicópteros, mas o pensamento de cada gnu que ingenua e egoísticamente acredita que nunca chegará sua vez.
Rogério Antônio Lopes é delegado da Polícia Civil
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