ENTREVISTA com o coordenador do Programa Ronda Escolar, o guarda municipal Eneci Paulo
O
pioneirismo da Guarda Civil Municipal (GCM) de Campos ao lançar, há
seis anos, um projeto, inicialmente pequeno, sem grandes abrangências,
fez com que outros municípios da região também fizessem o mesmo. E esse
projeto foi crescendo, crescendo, crescendo, a ponto de se transformar
em um programa que, embora tenha como princípio a rede municipal de
educação, vez por outra, quando solicitado e na medida do possível,
também é desenvolvido na rede estadual e até mesmo na particular da
cidade. Tudo prova sua importância dentro do contexto educação. Mas
seria importância ou necessidade? Eis a questão.
Assim é o Programa Ronda Escolar, presente hoje em 101 escolas da
rede municipal. O atual coordenador do programa é o mesmo que há seis
anos recebeu a incumbência do então comandante da GCM, Francisco Melo,
de criá-lo: Eneci Paulo. Mas como tudo era muito novo, ele saiu
pesquisando e estudando o assunto, além de ir conhecer de perto o modelo
já praticado na cidade do Rio, adaptando-o para a realidade local.
Eneci Paulo e sua equipe formada por um subcoordenador, 12 agentes e
dois palestrantes, desenvolve palestras educativas e preventivas com os
estudantes e, também, com os pais que, em muitos casos, são diretamente
responsáveis por determinadas atitudes dos filhos.
Veja a entrevista
Campos 24 Horas – O que é o Ronda Escolar de fato?
Eneci
– É um programa educativo e preventivo, para ser desenvolvido no
ambiente escolar municipal. Hoje atendemos a 101 unidades, diariamente,
com palestras sobre violência, sexualidade, drogas, comportamento, entre
outros, não só para os estudantes como também para os pais, além do
patrulhamento que é feito em torno dessas unidades. E procuramos atender
aos quatro cantos do município, desde Santo Eduardo, passando pela
Baixada, além de Guarus e lado contrário do rio.
C24H – E a segurança fora da escola também é com o pessoal do Ronda Escolar?
Eneci
– Segurança fora da escola, na rua, é com a Polícia Militar, a
instituição que tem essa atribuição. Nosso trabalho é preventivo no
ambiente escolar, proporcionando sensação de segurança para os corpos
docente e discente. Também interagimos e orientamos os alunos no ir e
vir para a escola, além de realizarmos as palestras educativas. Em caso
de violência dentro da escola, atuamos de forma integrada com
assistentes sociais, conselho tutelar e órgãos afins, tentando resolver
aquele problema, para que ele não se repita.
C24H– Você falou da necessidade de conversar também com os pais. Porque?
Eneci
– Porque muitas vezes a criança ou jovem presencia determinadas
situações e acabam querendo incorporar isso na sua vida, levando para a
escola. Por isso conversamos com os pais neste sentido, da não
participação dessas crianças e adolescentes na vida do seu responsável,
para que não sirva de mau exemplo. Sem falar na necessidade de se impor
autoridade, para que ela não venha a desrespeitar seus superiores dentro
da escola. E o pior é que muitas vezes, quando a criança erra, os pais
querem culpar a escola, transferir responsabilidades.
C24H– Você quer dizer que a família tem tanta responsabilidade quanto a escola. É isso?
Eneci
– Com certeza. Muitas vezes o adolescente leva para a escola aquele
comportamento que é mantido em casa ou. Então, que ele presencia. Ainda é
muito comum a mentalidade de pais que acham que quem tem que educar é a
escola e não eles em casa e aí que está o grande problema. Muitos pais
também não têm conhecimento e são levados pela mídia, que aponta o que
não pode, mas também não mostra como fazer. Os pais podem corrigir seus
filhos em bom tom, é uma maneira de educar, mostra autoridade, respeito,
por exemplo.
C24H – E como é a relação do Ronda Escolar com os pais nestas palestras?
Eneci
– Muito boa. Para você ter uma ideia, depois muitos vêm nos perguntar
como fazer para mudar seu filho, como se fosse assim rápido, de uma hora
para outra. Já os adolescentes não, na maioria das vezes eles acreditam
que o que fazem é o certo e muitos relutam em mudar o comportamento.
Mas também têm alguns que já começaram a mudar, passaram a ajudar ao
outro, formando uma corrente, o que é muito bom.
C24H – Depois que o programa passa por determinada escola, ela fica desguarnecida?
Eneci
– Não, nós voltamos lá na mesma semana, às vezes, até mesmo no outro
dia, dependendo do caso. Neste caso, as palestras demoram mais para
acontecer, porque não dá para fazer uma palestra em um dia e outra na
mesma semana. Mas as visitações acontecem, por isso que trabalhamos
todos os dias, sem parar. E também fazemos um mapeamento das unidades
que precisam de maior atenção, aquelas que apresentam mais problemas.
Ou, então, a própria direção nos orienta nesse sentido.
C24H– O programa tende a se expandir com o tempo?
Eneci
– Sim, acreditamos que no segundo semestre. Hoje basicamente
trabalhamos com os jovens, mas vamos também passar a atuar com as
crianças, de 5 a 10 anos, porque serão adolescentes daqui a alguns anos.
E começando a aprender nesta fase, chegarão a adolescência já
conscientizados dos seus direitos e deveres. Neste caso a palestras
serão com fantoches, entre outros recursos, para melhor assimilação.
Também vamos trabalhar para que a direção leve as crianças até à GCM,
porque muitas têm medo da gente, falam logo: É a polícia. Por isso nós
do Ronda Escolar mudamos o uniforme, colocamos o que é usado no
administrativo e de passeio, este azul mais claro.
Fonte - Campos24horas
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